terça-feira, 1 de junho de 2010

Direção e visão: importância das aulas noturnas

À noite, a visão pode nos pregar peças, principalmente em quem já tem algum problema de visão. Em condições de pouca luminosidade, a capacidade de enxergar é reduzida em até 30%.
A partir de agora, é obrigatório: as autoescolas do país devem oferecer aulas noturnas aos novos motoristas. O Conselho Nacional de Trânsito, Contran, definiu que 20% das aulas práticas deverão ser à noite. Das 20 horas de aula já exigidas para obter a carteira de habilitação, 4 horas serão no período da noite. A obrigatoriedade de prática de direção à noite para novos motoristas foi definida em março. O órgão teve 60 dias para definir o percentual de aulas noturnas. Anteriormente, havia apenas uma recomendação na norma para que os alunos fossem levados a dirigir à noite e em condições adversas. Agora, o caráter é obrigatório.

É comum ouvirmos algumas pessoas reclamarem que dirigir à noite é mais complicado do que durante o dia. Muitas chegam a afirmar que só dirigem à noite por necessidade. “Ofuscamento, ardência, visão turva, ‘parece que tem uma nuvem na minha frente’ são algumas das queixas... Freqüentemente, atendemos pacientes que reclamam sobre o ato de dirigir à noite, mesmo os que não têm nenhum vício de refração, como miopia, hipermetropia e astigmatismo. O ofuscamento causado pelos faróis dos outros veículos e a incapacidade de enxergar a certas distâncias são as principais causas das queixas. A nova norma do Contran é boa, vai testar a acuidade visual dos novos motoristas, o que poderá refletir-se numa segurança muito maior no trânsito”, defende o oftalmologista Virgilio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
O desconforto de muitas pessoas com a direção noturna pode ser explicado pela falta dos detalhes nas imagens. Isso porque os cones e bastonetes – principais células de visão – funcionam bem apenas com iluminação. Em casos mais sérios, o motorista pode apresentar retinose pigmentária, doença que proporciona um campo visual mais tubular. O problema é hereditário e tem como sintoma a cegueira noturna. Nos Estados Unidos, cerca de 100 mil pessoas têm cegueira noturna, mas no Brasil não há estatísticas para compararmos os dados. “O que sabemos é que as pessoas de pele mais clara sofrem mais com o ofuscamento por ter menos pigmentos na íris. Quando a luz bate, reflete dentro dos olhos, funcionando como uma caixa espelhada”, explica Centurion.

Motoristas com fotofobia também sofrem com o ofuscamento. Eles são muito mais sensíveis à luz e os faróis atrapalham demais. “Para evitar o incômodo do ofuscamento noturno, aconselhamos o uso de óculos especiais, em alguns casos. Há lentes com mais filtros e que contrastam mais à noite, acentuando as imagens e separando melhor os estímulos luminosos”, diz o diretor do IMO.

Virgilio Centurion destaca que além da perda dos detalhes das imagens, à noite, a percepção de profundidade de campo de visão também é menor. O motorista deve tomar muito cuidado, especialmente com os pedestres. “Um condutor na faixa dos 50 anos precisa tomar mais cuidado. Ele necessita do dobro de luz do que um de 30 anos para enxergar e, muitas vezes, precisa de óculos para manter a acuidade visual estática. Nessa faixa etária é aconselhável também fazer exames de visão freqüentes, pois o motorista torna-se mais sensível ao ofuscamento e mais lento para adaptar-se à escuridão. O tempo de reação do motorista diminui e, além disso, a visão periférica - a capacidade de enxergar alguma coisa fora do campo central de visão - se deteriora com o tempo”, recomenda o oftalmologista.

Lusco-fusco x acidentes
Segundo as estatísticas da Polícia Rodoviária Federal, quase 30% dos acidentes nas estradas ocorrem entre 17h e 20h, no lusco-fusco. “Justamente no período de tempo que o mecanismo da visão passa por uma mudança que torna o olho humano muito mais sensível à luz. Dentre as razões para a concentração de acidentes neste período, estão a dificuldade natural do ser humano para enxergar em situações de pouca luz, iluminação pública deficiente e o desrespeito às leis de trânsito”, destaca o oftalmologista Eduardo de Lucca, que também integra o corpo clínico do IMO.
Privilegiados com dias longos, os brasileiros não têm como prioridade cuidar da visibilidade noturna. Em países do hemisfério norte, onde em tempos de neve a escuridão prevalece na maior parte do dia, conseguir enxergar à noite na rua é uma questão crucial. Por isso, usam-se materiais que refletem a luz e acerta-se a parte elétrica do carro. No Brasil, não são raras as notícias de motoristas que não se preocupam nem em regular os faróis, um cuidado simples que pode reduzir o risco de acidentes.

“À noite, a visão pode nos pregar peças, principalmente para quem já tem algum problema de visão. Em condições de pouca luminosidade, a capacidade de enxergar é reduzida em até 30%. A hora do lusco-fusco - transição entre dia e noite - é crítica para o condutor de veículos. A perda de noção de distância e profundidade estão entre os riscos para os condutores de veículos. Com a percepção afetada, os reflexos ficam mais lentos. Uma pequena deficiência visual pode atrapalhar o motorista na hora de dirigir à noite. Mesmo que a pessoa não sinta falta de óculos durante o dia, a deficiência à noite é bastante agravada”, alerta Eduardo de Lucca.

Para guiar bem à noite

Enxergar à noite é um exercício para quem tem a visão normal. Fica mais difícil para quem possui alguma deficiência visual ou quem está com idade avançada. “Durante a noite, a visão de quem tem miopia, hipermetropia, astigmatismo, glaucoma e catarata piora devido à falta de iluminação suficiente e aos faróis, que ofuscam a visão fazendo com que se perca a noção de profundidade. Nestas condições, os reflexos do motorista ficam mais lentos porque, entre míopes e astigmáticos, a noção de distância em relação aos outros veículos é maior do que a real”, explica o oftalmologista Eduardo de Lucca.

Para enxergar melhor à noite, é preciso contar com o uso de filtros para óculos, com lentes amarelas. O motivo é que quem possui alguma deficiência visual pode perder de 10% a 25% da visão à noite. Este percentual varia de acordo com o vício de refração de cada motorista. “Por exemplo, os míopes, na hora do lusco-fusco, chegam a diminuir até duas linhas - medidas de acuidade visual da Carta de Snellen, a escala optométrica utilizada por oftalmologistas para medir a capacidade de visão dos pacientes”, explica Eduardo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário